quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Faça o que eu falo, mas...

Petitions by Change.org|Start a Petition »


Eu não gosto muito de rótulos, mas sou obrigado a reconhecer que, vez ou outra, quebram um galho. Podem servir para, com poucas palavras, separar joios de trigos e evitar que, por exemplo, Netinho de Paula e Paulinho da Viola sejam jogados no mesmo saco.

O problema é que frequentemente alguns desses rótulos viram moda e sempre tem um espertinho (ou muitos) que se aproveitam dessa definição de rápida digestão.

Uma das últimas modas rotuladas no nosso mundinho tecnológico é a TI Verde. Embora acredite em nobres propósitos, tem montes de aproveitadores e doutores em contra-senso que insistem em se apropriar de bons princípios para maus propósitos. E, é claro, sempre tem quem compre e alimente os motores desse círculo, que eu duvido que pratiquem princípios até mais elementares, como reciclar o próprio lixo e apagar a luz quando saem da sala.

Exemplos simples e abundantes são as empresas que se auto-atribuem um título de compromisso com o meio-ambiente, mas que a cada visita a um cliente distribui “folders” com 10 folhas de papel branco-imaculado, de alta gramatura, com direito a verniz e tudo.

Curioso pensar como essa antiga ostentação de luxo e originalidade ainda tem tanta força sobre o ego de boa parte do empresariado. Experimente (eu já fiz isso várias vezes) perguntar se ele tem consciência de que ninguém mais lê esse tipo de coisa. Pode até engasgar para responder, mas no fundo ele sabe muito bem que hoje em dia, quando chega ao ponto de sentar na frente de um cliente, este já pesquisou sua vida toda na internet.

Como assim?

Simples assim!

Para marcar uma visita, no mínimo você teve que se apresentar, dizer seu nome e o da sua empresa, certo?

Só isso já seria suficiente para o seu cliente fazer uma pesquisa razoável no Google e num LinkedIn da vida, DURANTE a conversa por telefone. Pra completar, marcada a reunião, geralmente você troca informações de contato com o seu cliente, como números de telefone e endereços de e-mail, certo? Então agora ele conhece oficialmente o domínio da sua empresa e chega instantaneamente ao seu site.

Então, sabendo de tudo isso, você acha que seu cliente perderia tempo em uma reunião, que raramente dura menos de uma hora, sem ter um conhecimento prévio, no mínimo igual ao que está escrito nos seus impressos? E você sabe que, com sorte, seu belo folder vai parar no lixo reciclável, não sabe?

E se você é capaz de dizer que não é assim que as coisas acontecem, significa que você ainda por cima subestima a capacidade intelectual dos outros. Tsk, tsk, tsk...

Outra coisa que mexe com a minha curiosidade são as empresas que vendem serviços de datacenter, cloud computing e virtualização mas não usam tudo isso.

Como será que conseguem vender serviços que eles mesmos não tem coragem de usar?

Triste é que estes são alguns dos serviços com papel mais nobre num contexto ecologicamente positivo.

Pra quem não sabe exatamente do que se trata (ninguém tem obrigação de saber) vou tentar explicar claramente:

Quando o assunto é computação, seja pessoal ou corporativa, ainda é mais comum encontrarmos aquele cenário mais “patrimonialista” em que cada pessoa tem o SEU computador e dentro dele o SEU super HD (já medido em terabytes), com SEUS programas, SUAS planilhas, SEUS arquivos, SUAS fotos, SUAS músicas, SEUS filmes e SEUS etecéteras.

Mas parando pra pensar, desde quando a internet se tornou abrangente, rápida e estável, poucas são as pessoas e empresas que realmente precisam destes ativos. Poucos precisam de tantos recursos de software e hardware literalmente imobilizados.

A boa notícia é que grande parte dessa lataria e quase todo o universo de programas e áreas de armazenamento podem ser contratados como serviços externos, deixando magrinho, magrinho o seu computador de uso pessoal ou profissional.

Esse seu computador, na verdade tende a se tornar um simples dispositivo de acesso à internet. Vai precisar de um mínimo de capacidade pra guardar meia-dúzia de coisas imprescindíveis para o dia-a-dia. Todo o resto, da internet virá e para a internet retornará. Claro que não dá pra generalizar. E eu nem gosto. Mas isso já começa a se aplicar a uma esmagadora maioria.

Não quero ser repetitivo, mas quem leu nesse mesmo blog o post de 11/04 deste mesmo ano da graça pode se lembrar de que apenas alguns dias depois do lançamento mundial do iPad, que foi para as lojas estadunidenses em 03/04, tive a oportunidade de brincar com uns deles e tive a nítida convicção de que os tablets seriam uma grande opção de dispositivo de computação pessoal e meio de inclusão digital. Tanto que na primeira oportunidade, dias depois, comprei um.

Quase 5 meses depois, esse sentimento ficou ainda mais agudo. Hoje tenho a experiência prática de ler livros, jornais e revistas no tablet, além de fazer registros de reuniões, anotações de aulas e palestras, pesquisas e mais um monte de coisas. E estou na maior expectativa pelos lançamentos da concorrência, que tendem a ser melhores e mais completos.

Mas onde ficou a história da TI Verde?

Aí mesmo!

Se você pensar no tablet ou no smartphone como um computador, concluirá, como eu, que são aparelhinhos menores, com menos componentes e de menor consumo de energia. Consequentemente, consomem menos recursos naturais na sua produção e no uso diário.

Como também são dispositivos multi-uso (principalmente os tablets), você deixa de consumir montes e montes de papel, desde as folhas de rascunho para anotações até livros que vão sendo substituídos por e-books. Passando, especialmente, pelas revistas e jornais, que desembocam às toneladas em nossos lares e vão rapidamente pro lixo, que muita gente nem recicla. A Época e a Folha de São Paulo, por exemplo, nem são minhas leituras favoritas, mas a experiência de lê-las no iPad chega a ser gratificante. E limpa.

E onde se encaixam mesmo aquelas histórias de datacenters, cloud computing e virtualização?

Aí mesmo!

Já faz até um tempinho que pessoas e empresas podem armazenar seus dados em recursos externos, acessíveis pela internet. Também podem compartilhar um monte de recursos na tal nuvem, sem perder nada com isso. E ainda tem vantagens, como desincumbir o usuário de tarefas tão imprescindíveis quanto pentelhas, como fazer backup e atualizar o anti-vírus.

Essas tecnologias que permitiram o compartilhamento de vários recursos serviram de base para que fosse criada uma tal de virtualização de desktops. Essa, por sua vez, está começando a se mostrar a mais revolucionária e eficiente em termos sustentáveis, porque permite a aplicação de uma dieta rigorosa sobre os milhões de computadores que hoje se espalham em cubículos corporativos e notebooks que habitam pastas de estudantes, proletários e executivos mundo afora.

Com os desktops e notebooks devidamente emagrecidos por uma dieta que tira de suas vísceras muitos gigabytes de HD e RAM, já que programas e arquivos foram lipoaspirados para servidores seguros na nuvem, muitas doenças associadas à obesidade também tendem à erradicação.

Pra começar, o roubo destes dispositivos deixa de ser um terror. Ninguém deseja ser roubado, mas se for, tem a tranqüilidade de que quem roubou só levou um punhado de plástico ou lata. Nada de dados confidenciais ou fotos comprometedoras.

Depois vem a durabilidade e a preservação do investimento. Como essas maquininhas vão rodar apenas aplicações simples, o suficiente para entrar na internet, acaba a comedeira de hardware motivada pela voracidade do apetite do software. Especialmente Windows, Office e seus filhotes, que a cada nova versão exigem máquinas maiores e mais potentes, trazendo uma longevidade até então impensável para o estilo de vida corrente.

Sem falar na tremenda economia na compra de máquinas novas, seja para reposição ou para aumento do parque. Nada de super-requisitos de memória e disco. Máquinas magrinhas darão conta do recado. E essas maquininhas, além custarem mais barato, também terão menor consumo de energia e demanda de manutenção.

No uso doméstico, uma conexão razoável à internet é suficiente para viabilizar o armazenamento de fotos, vídeos, música e livros em sites especializados. Muitos gratuitos.

Textos, planilhas e apresentações de slides também tem lugar garantido em grandes serviços na web.

Se você é um grande consumidor, do tipo compulsivo, pode até não se enquadrar nos incontáveis serviços grátis, mas provavelmente vai encontrar um que justifique uma módica tarifa em troca de não precisar mais expandir o HD, fazer backup e, principalmente, testar a restauração desses backups, sem o que de nada servem.

Vale a pena pensar no uso desse monte de recursos que já existem, quando cobrados são acessíveis e são bem mais simples do que parecem.

E não é feitiçaria. É tecnologia!

:D