terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Pelados



Uma das maiores discussões travadas (e mantidas) desde os primórdios da internet está em torno da dobradinha privacidade e segurança.

Muito antes do surgimento e proliferação (feito praga) das redes sociais, a preocupação já atingia os ancestrais sistemas de troca de mensagens e os então revolucionários sites de comércio eletrônico.

Com o tempo, embora o comportamento dos usuários da Grande Rede não tenha amadurecido (de verdade) na proporção que se esperava, essas trackitanas se incorporaram de tal forma à rotina das pessoas que apenas os casos mais agudos de violação chamam atenção. 

Mas quase ninguém para para pensar no que leva a fina flor do capitalismo a rompantes de altruísmo de tamanha generosidade ao nos permitir usar sem qualquer custo suas preciosas criações, como Facebook, Google e Twitter. A coisa fica ainda mais enigmática quando temos consciência (ou ao menos noção) do astronômico volume de recursos necessário para manter esses brinquedos funcionando.

A resposta é óbvia e velha. Todos querem seus dados, suas informações pessoais e hábitos de consumo e de vida. Como há décadas já fazem as companhias telefônicas, os bancos e as editoras dos jornais e revistas que você assinava desde os anos 70 do século passado.

Já considero essa discussão descabida, fora de tempo e, principalmente, fora de foco.

Claro que é, sim, uma grande ingenuidade (ou estupidez) enriquecer seu perfil no Facebook com todos os dados pessoais, relações de parentesco e fotos de toda a sua família. Além de exibicionista, deixa todo mundo vulnerável a uma infinidade de ações mal intencionadas. Mas não é a isso que me refiro.

A questão é que as suas informações mais elementares e valiosas para os negócios são justamente as que você não pode evitar compartilhar. São obrigatórias para abrir e manter uma conta bancária, ter um cartão de crédito, contratar um serviço de TV por assinatura ou telefone celular. Além disso, Google, Apple, Microsoft e tantas outras sabem há tempos tudo o que você procura, por onde anda, o que tem e o que deseja. Experimente tirar todos estes elementos da sua vida e veja o que acontece.

Sim, todos eles e mais todos os aplicativos que habitam o seu celular e muito mais gente usa e abusa das suas informações e a grande maioria as compartilha com muitos e muitos outros, formando uma pirâmide na qual você, origem e alvo da panacéia toda, é a base achatada que pouco ou nada recebe, além de ter a caixa de spam sempre maior que a de entrada.

Você já está nu. Só resta tirar algum proveito disso.

Nossas informações já são compartilhadas compulsoriamente com corporações que fazem o mundo girar com elas.  Então por que, raios, não podemos também ser beneficiados de alguma forma?

Já temos tecnologia suficiente para ações muito mais inteligentes, ousadas e úteis que os insuportáveis e-mail-camelôs e janelinhas pop-up, que só servem para exercitar a pontaria ao fechá-los.

Vamos pensar, num exemplo totalmente aleatório, em uma livraria com lojas físicas e virtuais que oferece um aplicativo para o smartphone de seus clientes.
Através dos meios digitais (e-commerce e m-commerce), a dita sabe que procuro determinada publicação, indisponível em determinado momento.
Pela geolocalização que compartilho espontaneamente através do aplicativo, a dita sabe que estou perto de uma loja física que recebeu a publicação que procuro. Ao penetrar em sua geo-fence, o sistema da livraria me envia uma  mensagem qualquer (sim, pode ser o velho torpedinho), me convidando a aproveitar a proximidade e buscar o livro na loja.

Esse tipo de ação simples, conduzida com bom senso e cordialidade, faz toda a diferença na relação empresa x cliente.  Seria algo suficiente para que eu compartilhasse muito mais informações com muito mais prazer.

Diferente de muitos dispositivos que embora tecnicamente viáveis ainda devem demorar para atingir escala comercial que os torne acessíveis para o grande público, como geladeiras e adegas ligadas à internet, todos os recursos que menciono no exemplo acima estão completamente disponívies, acessíveis e maduros para que qualquer um use e abuse deles.

O que falta é um pouco mais de originalidade e ousadia no empresariado.

:D