segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

People Will Come

Quem passou dos 30 deve se lembrar desse bordão do filme O Campo dos Sonhos, de 1989. Eu vi e não gostei há 25 anos. Foi indicado ao Oscar, estrelado pelo então queridinho da América Kevin Costner, mas achei um saco. Revi há poucas semanas e gostei menos ainda, mas a frase dita pelo vozeirão do Darth Vader à paisana James Earl Jones era profética.

Não pelo campo de baseball, que afinal de contas estava no roteiro, mas porque tem hoje um significado emblemático para o mercado de produtos e serviços suportados por trackitanas tecnolológicas.

Não vou encher lingüiça com números e datas porque ninguém merece e se alguém quiser fazer comparações exatas uma consulta simples ao pai-dos-burros resolve, mas é interessante ver como a teimosia de alguns segmentos atrasa suas próprias oportunidades.

Começou com o causo da música digital. Acostumada a vender milhões em discos, numa cadeia que envolvia manufatura, armazenagem e distribuição física, as gravadoras resistiram o quanto puderam à venda de álbuns e canções em formato puramente digital. A resposta da sociedade foi uma enxurrada de plataformas de trocas de arquivos que serviam para muitas coisas mas, primordialmente, piratear música. Épicas batalhas judiciais foram travadas por anos e anos até que muitas dessas plataformas fossem ajustadas ou fechadas, mas nesse período quem ganhou? Quase todo mundo, menos as gravadoras e artistas.
Hoje, com o formato consolidado, modelos de negócio democráticos, serviços de streaming legalizados a custo baixo ou gratuito, nada disso se discute mais. E, melhor de tudo, estes formatos convivem harmoniosamente com os bons e velhos LPs de vinil para os amantes do old fashioned way. Liberdade de escolha é isso. Você oferece os serviços, os formatos, dá acesso e as pessoas escolhem.
People will come!

Outro exemplo estapafúrdio é o dos livros na Terra Tupinambá. Desde a explosão da Amazon com os e-books há uns 5 ou 6 anos, ouço as mais variadas desculpas para que as editoras e livrarias daqui não vendam seus títulos online. Vão desde dizer que o consumidor brasileiro é um marginal que vai piratear tudo até dizer que o brasileiro não consome livro digital por falta de cultura, passando pela minha preferida, que é dizer que vende-se muito pouco livro digital aqui na terrinha.
Tsk! Coisa mais feia... Canso de recorrer a cópias genéricas por absoluta falta de opção, depois de desistir de procurar por um título que não existe mais em catálogo nenhum, digital ou físico, mas que alguma alma caridosa se prestou a digitalizar e compartilhar na rede. Quem ganhou com isso? E se eu tivesse optado por um sebo, quanto a editora ou o escritor teriam ganho? Por outro lado, a editora poderia ter mantido o livro em seu catálogo digital e oferecer um serviço especial de impressão para os aficionados por papel. Eu teria comprado sem dúvida, teria economizado muito tempo, todos estariam felizes e lucrando. 
Por isso os livros digitais vendem pouco por aqui.
Porque não tem e só.
Afinal o material digital está pronto. Ou alguém ainda datilografa e mimeografa seus originais a álcool?
É só abrir o catálogo (inclusive de didáticos), oferecer a um preço justo e adivinhem o que acontece!
People will come!

Meu mais novo ponto de observação ainda nem tem nome certo. Os americanos já chamaram de Click'n'Collect e agora chamam de BOPIS. Nem é uma tecnologia em si, mas uma mudança de prática ajudada por trackitanas básicas na web ou no celular. 
BOPIS vem de Buy Online, Pickup In Store. Muitas lojas de lá, incluindo supermercados, passaram a adotar a prática em que o cliente compra através de um meio digital qualquer, principalmente o celular e combina a retirada da compra em uma loja. Com isso eles evitam uma série de problemas, como toda a movimentação externa de mercadorias, problemas de trânsito e todas as responsabilidades envolvidas nisso. E o cliente adora, porque pode retirar a compra no mesmo dia, aproveitando o trajeto do trabalho para casa, sem pagar taxa de entrega.
Por aqui o comércio ainda resiste. Raízes profundas nos processos que existem "desde o tempo do meu avô" impedem novos serviços de surgirem, até que grandes redes multinacionais se movimentem e ponham tachinhas na zona de conforto.
Os gatos pingados que fazem de conta que adotam o sistema inventam uma série de regras inexplicáveis, praticam preços mais altos nos produtos e criativamente cobram uma taxa do cliente para fazer seu trabalho.
Yes, nós temos banana. Superfaturada, off course.

Lá, de 2013 pra 2014 o número proporcional de clientes que escolheu esse modelo de compra aumentou em mais de 10 vezes. E por que não escolhiam tanto antes? Porque não havia o serviço. Só por isso. Basta oferecer.

People will come!






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